terça-feira, 15 de setembro de 2009

Publicação

Há um mês atrás enviei um texto meu a uma editora, pois ela abriu suas pernas e disponibilizou um concurso literário. Enfim, chegou-me a pouco um e-mail de tal editora me dando seus respectivos parabéns, e fazendo um clichê básico. Disse que meu texto foi um dos escolhidos entre 852 trabalhos enviados. Isso não me importa, pois dentro de minhas concepções “gostar” é relativo ao dia da semana. Tudo equivale de como você está se sentindo pra ler.

Senhoras e senhores,

É com grande prazer que estou aqui, anunciando que o prazer de escrever é um ato esquizofrênico... Acreditar é um grande delírio de nossa parte. Estamos em um circo expostos, procurando, idealizando nossos desejos... Nossos sentimentos estão à venda!

Não entendeu, não é?

Agora começa a grande piada...

Estamos, assim, convidando-o(a) a participar da antologia referente ao Concurso, em regime de cooperativa, que será lançada em janeiro de 2010, em livro único ou duplo.

Seu(s) trabalho(s) será(ão) editado(s) em 6 (seis) páginas e você receberá 30(trinta) exemplares do respectivo livro.

Você pode participar com todos os trabalhos, ou com quantos quiser, recebendo os mesmos 5(cinco) exemplares por página.

Assinale abaixo a forma de investimento que melhor lhe convenha e nos devolva, o mais rápido que puder, para que possamos emitir o contrato de edição.

Mais uma vez nossos parabéns e nosso fraterno abraço.

José Maria Rodrigues
Editor
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Recorte aqui e envie-nos, devidamente assinado, pelos correios, ou confirme sua participação pelo e-mail: $$$$$$$$$$$$, indicando a forma de pagamento que escolheu, para que possamos emitir o contrato de edição.
NOME:___________________________________________________
Nº pág. 06. Nº de exemplares: 30 ( ) A vista: 594,00 ( ) Em duas parcelas de R$ 297,00
( ) Em três parcelas de R$ 198,00 ( ) Em quatro parcelas de R$ 152,00
( ) Em cinco parcelas de R$ 124,00 ( ) Em seis parcelas de R$ 106,00

Melhor dia para pagamento: (__________)
PRÊMIO POESIA E PROSA DE VERÃO
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Assinatura

Eu não pretendo me vender e muito menos me comprar! Ainda mais por 594,00 reais... UHAAUHAUHAUH
Essa piada é muito boa!
E viva o dinheiro, viva Sarney, viva, viva, viva as editoras... VIVA! Tudo é um grande circo e nós fomos escolhidos pra palhaços!
Clique aqui e divirta-se também!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Conto – Borboletas de Muzo

Fecho os meus olhos e lembro-me da exemplar exposição do seu olhar, verde e esplendorosamente singelo, o poder de toda flora carregado nos seus olhos resplandecentes de mulher. Meu vôo é muito mais do que uma aproximação da realidade é o mito que nos acoberta nos devidos sonhos. Dentro deles sou complacente com o amor sugerido, revigorado pelos olhares e inoportunas sensações de formigamento em meu peito.
Sua chegada era programada, depois de anos de viagem. Partiu, feito louca deixando tudo e todos pra trás. Seu desejo era descobrir o mundo, encontrar-se no desconhecido e aprender com culturas distintas a melhor maneira de se definir. Desde criança, era notável sua aptidão e seu real envolvimento em se despir das coisas que a sufocava. Ela saiu de casa com a esperança de preenchimento do seu espírito, pois acreditava que algo maior era reservado pra ela no imaginário particular do seu mundo.
Quando ela fugiu da casa da minha tia, eu nem entendia seus reais motivos, talvez minha idade inferior e a falta de maturidade foram determinantes pra que isso ocorresse. Pra ser sincero, nem gostava muito dela quando criança, talvez por meus pais acharem que ela era meio maluca. Não sei. Só sei que sentia um pouco de receio, algo estranho que me repelia dela.
Uma quinta-feira chegou à notícia que ela havia partido, sem rumo, sem uma estrada predefinida. Foi um burburinho só, uma vergonha encarecida no lúgubre da alma da minha tia. Deixou apenas um bilhete falando que voltaria um dia, e que mandaria inúmeras cartas pra contar seus passos e inquietar um pouco o coração da sua mãe que tanto amava.
Pra mim suas cartas eram verdadeiras sagas, repletas de aventuras e fantasias. Comecei a admirá-la de tal forma, denominando-a como a aventureira dos meus sonhos. Com os anos fui esquecendo-me do seu rosto. Mas a cada capítulo, a cada versículo, a cada sensação de liberdade que ela me transmitia; era criado em mim centenas e inúmeras versões de uma mesma mulher.
A última carta dizia que voltaria em breve, que não agüentava de tanta saudade dos seus entes queridos. No momento eu senti certo pavor, um medo que escondia uma felicidade inquieta. Como estará ela agora? O que direi? O que farei? A curiosidade me matava a cada dia. Eu a esperava, procurando o desfecho de vê-la, de senti-la. Mas os dias iam pingando frustrações e eu as escrevia com o pensamento nela. Como será a sensação?
O engraçado é que tudo acontece quando menos se espera. Lembro-me como se fosse hoje ela chegando à casa da minha tia. Usava uma fita vermelha prendendo o seu brilhoso cabelo negro, um chapéu longo e um poncho dos Andes. Pra ser sincero não reparei nada disso assim tão rápido, eu fiquei fascinado por aquela mulher de olhos verdes. Minha prima.
A verdade é que aqueles olhos continham cristais romboédricos, de uma magia indescritível. Brilhavam como gotas de azeite. Aqueles olhos oblíquos. Feitos de uma pedra não talhada. Pareciam aquelas grandes esmeraldas da cidade de “Muzo”, que eu como químico e admirador do estudo da mineralogia soube ver e contempla-los com grande entusiasmo.
Fiquei surpreso por seu modo relaxado e dado. Sem nenhuma preocupação veio e me deu um abraço daqueles. Gostoso. A silhueta do seu corpo, o melhor desenho que Deus podia ter elaborado, a obra perfeita. Meu péssimo agosto dava lugar para um quente e acolhedor setembro, presente nas curvas do corpo daquela mulher idealizada.
Em questão de segundos parecíamos velhos confidentes. Eu sempre reclamando da minha vida. Dizendo que estava cansado de ser amorfo... Que a solidão é algo presente em meu espírito, que os meus sentidos foram aprisionados em uma cauda de estrela e levado pra não sei onde. Blá, blá, blá. Com ela tudo era diferente, ela era a lua e olhava tudo de cima sempre com maestria, sabia dentro de suas concepções que não há lógica em escrever, mas virtudes em se perder pra se encontrar depois. Uma mulher mágica que me chamava de anjo, o recipiente onde eu depositava meu amor gigantesco.
De certa forma ela fazia parte de mim, vivíamos entre as fumaças dos cigarros e da degustação de vinhos baratos. Sempre nos perdíamos naquele silêncio momentâneo, o presságio configurado pela repentina troca de olhares. O amor estava nascendo e a tentação expelia a grande histeria de nos possuirmos logo, de uma vez...
Não demorou muito pra sentirmos nossos sangues com laços familiares coagulados na loucura do desejo. Como descrever o sentir da encruzilhada das suas pernas?Não faço idéia. Só sei que fui absorvido dentro dela e minutos depois filtrado, como se tivesse sido acompanhado passo a passo no precipitar de minhas asas. Na minha concepção o erro é envolvente como nasceu para ser; e era na certeza que se criou entre nós.
Um dia ela me disse...
Sempre soube que partiria, ingenuidade minha achar o contrário. Eu gostaria de não sentir saudades, mas é algo que parte de dentro de mim e não tem como conter. Eu não poderia prendê-la, pois ela fugiu do destino mais certo... Que era estar comigo. Seus olhos significavam as mais belas borboletas, pois voavam sem destino certo... E sei que tais borboletas são muito mais bonitas quando podem exalar para o mundo toda a sua liberdade.