quarta-feira, 31 de março de 2010

Conto – Canções Dentro da Noite Escura

Ela despiu-se, ficou inteiramente nua, sim, intensamente nua. Olhava-a com olhos de cão faminto, tentando, buscando quais as melhores respostas para me fazer entender a silhueta do seu corpo. Meu cigarro queima, queima e, a fumaça sobe assim distorcendo meus olhos, lacrimejando-os, fazendo com que eu não a veja ou que assim acreditasse. Mas enxergava, a enxergava bem, mesmo estando por trás das cortinas de fumaça, e de todo o clima que nos cercava. Eu queria crer, tentei por minutos entender seu corpo, sua voluptuosidade, e as idéias que ali pairavam esquecidas. Mas não, não existia nada que eu pudesse fazer, tudo tão distante de mim naquele momento, que preferi fazer os cálculos da sua beleza... Só somatórios. Ela caminhou em minha direção, caminhou não, gingou, bailou com suas pernas de bailarina. Ahhh sim, que belas pernas por sinal, carne macia as das suas coxas, carne assim de primeira, carne nobre. Eu permaneci assim sentado à beira da cama, tragando compulsivamente meu cigarro tão infinito, tão pecaminoso. Uísque, cadê o uísque? Sim, peguei-o, eu queria fazer o meu clima: “vamos esquecer o verão, pulemos diretamente para o outono”. Por que uísque barato e cigarro combinam tão bem com sexo? Não sei, não sei nem por que estou pensando nisso agora, e por que penso uma porrada de coisas assim do nada. Minha cuca pede socorro, eu peço alarme, peço alarde. Ela arrepiou meus cabelos com suas mãos, puxou-os com moléstia, com força, porém de forma carinhosa. Olhei-a bem nos olhos, fitei-a enquanto seu rosto aproximava-se, ela me beijou. Beijo bom, encaixado, ensaiado, apaziguado, fresco; nem tão molhado, nem tão seco, nem tão cheio, nem tão vazio. Perfeito, se é que isso existe. Ela tirou minha camisa, jogou-a em cima do ventilador e puxou-me de volta, de volta para o castigo que seu olhar oferecia. Empurrou-me, deixando-me de forma tão estirada na cama, de forma tão rendida. As mulheres são suficientes, querem sempre ir ao fundo de tudo, espremendo-nos, retirando o último caldo de nós. Pois bem, ela ficou por cima de mim prendendo-me no meio de suas pernas. Eu estava agora de coleiras. Toquei-lhe o seio com suas reverberações inexplicáveis com uma das mãos. Abri os braços sobre a cama, estava sendo crucificado, como um dia Cristo foi. Ela me beijou, passou sua língua sutilmente em meu rosto, e foi descendo, descendo pelo meu queixo, pescoço, peito e abdômen. Eu segurava-lhe pelos cabelos com força, quase que os arrancando, enquanto ela dedilhava suas notas sobre o meu pau. Com a minha outra mão levei o cigarro à boca, aspirava a fumaça enquanto a fazia transpirar. Eu olhava o teto enquanto ela divertia-se abrindo o fecho ecler da minha calça; olhava quase inerte, as estrelas de plástico ali coladas, estrelas de formas e tamanhos distintos que brilhavam, luziam no escuro. Tão escuro mesmo ficou quando amanheceu e eu tive que partir...

Um dia eu termino

terça-feira, 30 de março de 2010

A tão sonhada bicicleta

Eu permanecia assim: confuso, delirante, morto, vivo, estacionado, subversivo, eloqüente, incapaz, enclausurado, libertino, ultrapassado, transfigurado...! Enquanto definhava-me em adjetivos, Viviane começou acariciar o meu rosto, sossegando o meu espírito arredio. Ela tem esse poder sobre mim, de acalmar-me. Seus olhos líquidos são penetrantes, são confortantes... Fiquei olhando pra ela, diretamente nos seus olhos castanhos, olhava-a diretamente no berço da sua alma. Viviane é doce, é madura, e segura de si, é a mulher que eu procurava nos meus dias, nas minhas noites delirantes e febris. A mulher que eu sonhava na frente do espelho, a mulher que me fazia mais homem no sentido de reinventar-me cada vez melhor, cada vez mais sadio, cada vez com menos palavras. Beijei-lhe o rosto, como se deixasse um pedaço meu ali, como se me despedisse...

domingo, 28 de março de 2010

Verde limão

Sobre as minhas costas
Carrego o céu e um tanto do inferno.
Dentro das idéias perdidas, feito água escura,
Cometo suicídio sem ao menos me ver

Nos delírios que não sei admitir
Transformo-te em quimera.
Contraste de preto em fundo preto
De dois olhos se apagando

Espremo-te
Feito limão verde
Tiro o suco de ti, desviriginando-te
Como quem está morrendo pela seca

Então assim enveneno-me
Então assim morro...
Pela vontade própria
De um desejo que se quer impróprio

O corpo mole como uma boneca de pano
Desfalecendo-se dos miolos
Da mente,
E de um entulho de coisas que não sei explicar...

Sobre o mar
Sobre o mal
Sobre o sexo
E sobre mim

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mais um "Hey"

Como eu não tinha nada pra fazer nessa madrugada, acabei revirando uns textos meus e encontrei isso... Foi um e-mail que mandei respondendo Maria Alice, uma amiga minha Virginiana Ferrenha. Achei engraçado e decidi posta-lo. Os erros dele achei melhor mantê-los, pois assim fica mais informal e mais pessoal.

Hey

Opa, o bom é que estamos mergulhados entre as nossas próprias “porras”. É tanta excitação que pra porra sair é só uma conseqüência dos nossos atos. Rs...

Eu estou bem, continuo a mesma merda molenga de sempre, talvez eu esteja tentando encontrar o meu espaço, porém cada vez mais eu acho que vivo numa parte diferente do mundo. Como se eu fosse ou visse algo que as pessoas não vêem ou não se importam o suficiente. Talvez eu enfatize muito o “Eu” e fico falando essas bobeiras todas... É como se eu fosse um planeta.

Pois é, Maria, eu sei como você se sente! Eu lembro que no início da nossa “relação” achava-mos que éramos quase iguais. Nossos pensamentos batiam muito, e talvez por isso, estamos juntos, preservados naquilo que chamamos de amizade. Eu te entendo, acho que você me entende também e isso talvez seja um ponto a nosso favor. Em questão a ligação, eu estou morrendo de saudades da sua voz, porém já não sei mais que horas você está em casa ou que horas te ligar... Isso acaba criando um empecilho, eu também não quero te incomodar como os meus blá, blá, blás... Você agora é uma mulher ocupada. Rs...

Fico feliz que você tenha a mesma sensação que eu quando leio seus e-mails. Olha, eu fui quarta-feira ao Rio fazer a matricula da pós-graduação. As aulas começarão em Abril caso abra uma turma; ou seja, que tenha um mínimo necessário de alunos, o que é uma grande merda! Já estou meio bolado com isso. Sempre as coisas pra mim são um grande dilema. Eu acho isso um saco!

Eu sou muito parecido com você nessa parada de chutar o balde, sempre quero fazer isso. Mas sei lá meu bem, insista nas coisas que o grande prêmio já está a sua espera, nada nessa vida é em vão. Tudo tem um motivo e um por que. Basta apenas procurarmos as perguntas certas, pra vivermos uma vida tentando achar uma droga de resposta. Frustrante!

Esse Rio de Janeiro é apavorante pra mim. Não em termos de violência, não em termos de transito, mas sim, onde é que eu vou me enfiar dessa vez... Tudo muito grande, muito tentador, muito acelerado nesse tal de Rio de janeiro. O engraçado é que todos vêem o Rio como a parada, como um meio de salvação, como meio de independência e, eu pelo contrário vejo o Rio como um local de condenação. Vou acabar me enfiando no breu dessa cidade!


Porra, você é foda, escreve pra caralho e fica assim toda melindrosa, toda achando que não escreve bem... Deveria como jornalista se enfiar nesse meio, quem sabe virar uma escritora. Acho que tem talento o suficiente para isso, basta apenas escrever o que transborda dentro de você, que as coisas saem naturalmente. Tem que perder esse medo e esse senso crítico particular. Bundona!

Se fosse um tempo atrás, eu poderia até achar que fosse pra mim isso que você escreveu, poderia até fantasiar algo inexistente, poderia até sentir uma pseudo-felicidade. Mas o tempo me fez desencanar a respeito disso, me fez desencanar pra uma porrada de coisas... Eu sempre achei que eu fantasiasse demais, porém algo, mas precisamente na terça-feira, fez cair esse meu conceito. Sérgio sempre lê as coisas que escrevo, ele está lendo agora o que eu escrevi, ele acha horrível, faz uma cara... Não sabe nem mentir aquele viado. Rs. Ele me diz que tenho que fantasiar mais, inventar coisas. Deve ser porque eu disse que estou escrevendo coisas reais, e não curto inventar coisas, ainda mais sobre mim.

Então chega dessa merda. Cansei

Beijos

terça-feira, 23 de março de 2010

Atire no geminiano

Outro dia eu vi um sorriso. Eu sempre adoro sorrisos. Fiquei imaginado o que há por dentro dele, e qual seria o seu segredo. Ah sim, adoro o sorriso de uma mulher. Andei um tempo sumido de mim, porém continuo sumido dos outros... Eu sou assim difícil de conquistar às vezes, difícil até mesmo quando sou conquistado. Como diz Sérgio: “Falta-te Lua”, falta-me mesmo. Talvez, precise ver mais um sorriso igual ao do outro dia que mencionei. Isso sim é conquistar, é ter vontade por algo distante. É curiosidade aguçada...

Escrevendo meus manuscritos intermináveis, saiu de mim a seguinte frase: “Pensar em mim é o que congestiona todo o resto”. Eu nunca estive tão certo sobre mim. Mas e aquele sorriso? O que faço com ele? Eu só sei o que ele fez comigo. Descongestionou-me: “mesmo que por um instante”. Tão lindo e tão distante. Não quero pensar no tão impossível, prefiro pensar no tão distante. É torturante saber que existe o seu sorriso, e que ele anda, que ele é capaz de respirar. Dilacerante é imaginar que um sorriso pode abraçar, pode beijar. Queria eu ganhar esses tons seus... Verde, azul, vermelho e amarelo, por que não?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Vontade

Há um tempo atrás eu descobri que não tenho nome
Só tenho vontade...

Vontade dos seus olhos
Vontade do seu sorriso

Há um tempo atrás eu me descobri
No mesmo tempo que você reinventava-me
Cada vez com menos palavras
Cada vez com menos nome

Com o brilho repouso-me,
Com o breu durmo,
Pasmado...
Com os pés descalços sobre a terra seca

Sua aura,
Diante da altura dos planetas
Cintila...

A freqüência quebrada pela fragrância.
Uma aspiração mecanizada
Dentro de um sentido falso que achei...

O que faço com as perguntas sem respostas,
Enfio no bolso?
Pois pra mim você sabe ou deveria saber...
Que isso não é uma coisa qualquer.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Conseqüência da pele

Depois de ontem
Comecei a me sentir tão entre parênteses
Tão sublinhado no termo de minhas emoções
Que comecei a me sentir um mar

Tão aparentemente desesperado
Tão subliminarmente grifado,
Tão por assim dizer... Afogado

Ao sinal das árvores que ao sol irradiam
Como trovoadas e metáforas não escolhidas
Um torpor,
Uma vertigem e um sono

Se não há um sol nesse meio-dia
Existe um sol ainda não escolhido
De permanência irrefutável
De grandeza infinita...

Como conseqüência da pele

domingo, 14 de março de 2010

Se o inferno são os outros, eu já não sei mais o que sentir...

Sabe como é se sentir a cem quilômetros por hora? Pois assim que estava me sentindo, como se meu corpo estivesse acelerado enquanto todo o resto passava lento, vagaroso, com uma vontade de encostar-se em um sofá e dormir sem ao menos retirar os sapatos. O mundo estava com sono e eu alinhavado em um quesito de tensões de minhas células, de neurônios, de opiniões que não iriam levar-me a lugar nenhum, apenas afogar-me. Idéias que pairavam no ar, idéias desgovernadas que iam se perdendo devido à velocidade e a falta senso. Pensamentos que vagam, viajam não com o intuito de chegar a um ponto preciso, mas a tantos outros pontos; que devido à aceleração pode se considerar um ato de suicídio, não só da mente, mas também do subsidiário, do terceirizado e defectível corpo. Não sei quando começou ou quando vai começar a revolução. Só sei que dentro de mim existe uma guerra; não uma batalha com soldados, mas uma batalha feita de idealistas e seus ideais... Um combate de tuberculosos. Pois bem, morre dentro de mim milhares de poetas por dia. Dizem que assim se faz um homem, o que é uma grande mentira.