sábado, 31 de julho de 2010

O futuro da esquerda

Sobre um mar de fúria, onde as promessas, antes engarrafadas, triunfavam o encontro; a certeza de uma existência perdida, ou pelo menos que existiu, deixou sua marca. Eu sou assim, um mar em fúria, e muitas vezes deparo-me com meus sentimentos à deriva em mim. É difícil de assimilar certas coisas, ainda mais quando isso navega pelas suas veias e triunfa sobre seu rio de sangue. Parece que têm algo se infiltrando, algo perdido em mim, alguma coisa que quer revelar-se, e eu sei exatamente como fazê-lo; porém prefiro deixar que isso queime em minha pele. No início, pensei em monitorar seus passos, sentir as marcas de suas sapatilhas, escorar-me sobre suas poesias, e isso talvez fosse um bom plano para enganar-me. Tudo vem de repente, feito um coice, levando-te ao chão, e essa é a sensação que mais gosto. Nunca pensei em voar, pra mim sempre foi esborrachar-se no chão; voar todos voam, mesmo que suas asas estejam podadas ou quando não estão esquecidas no armário. Quantas frases soltas encontrei, sobre voar, sobre nuvem, sobre anjos? Eu quero que você seja certeira, que atire em mim quando achar que for a hora; talvez esse seja o futuro do lado esquerdo: - "Levar um tiro".

sábado, 24 de julho de 2010

Esboços de um coração embriagado


Trecho de algo muito maior

Poderia ser uma noite comum como tantas outras em minha vida, porém aquele clima, aquele jeito torto que encaramos a vida, de certa forma, parece me trazer luz. Sinto-me bem olhando para esquerda, para a direita, um tanto quanto protegido e solto de certos pesos que carrego. A vontade era entregar-me num grande abraço, mas não era necessário, pois antes mesmo de pensar, eles já haviam se entregado a mim. E como é bom sentir-se assim, saber que não precisa fazer nada mais do que ser você para agradar. Os bares na Lapa morrem um a um, como se fossemos seguir um processo evolutivo: - "Nós eramos os assassinos da noite". Um gato passa beirando as janelas, e por alguns minutos ficamos olhando ele entrelaçando-se entre os fios de eletricidade. E olhando o gato notamos, como são bonitinhas aquelas casinhas antigas: " Porra, vamos morar numa dessas casas"? Sim, nós três temos o sonho de morar naqueles cafofos da Lapa. Isso antes de juntarmos dinheiro e irmos juntos para a França, tomar vinho na Praça Clichy, tudo na ilegalidade. Podendo ficar nós três, juntos novamente, dessa vez agora na terra dela, talvez à quatro, pois lhe pedi uma amiga francesa. Mais um bar aniquilado, e assim seguimos, para algum lugar que queira nos abrigar e nós o encontraremos, pois somos incansáveis, sempre o mais interessante do bares; ou seja, o mais sujo. Caminhamos entre a imensidão de lixo, de uma cidade que não quer parar, que não pode esquecer de que está viva um instante. Quase sós, escolhemos as ruas que nos parecem as menos perigosas, e assim seguimos o nosso trajeto beirando a embriaguez.

Dedicado a duas pessoas especiais


sábado, 10 de julho de 2010

Claves de sol

Eu pensei em várias formas, e as formas quando penso criam cores, e o céu tem uma infinidade dessas cores contraditórias. Tudo o que eu queria era sentir, sentir a necessidade de não sentir-me assim. Às vezes, do nada, sinto saudades. E essas saudades são torturantes, são sentimentos quase apagados dentro de mim que voltam a berrar suas claves de sol empenadas. E por onde andaria ela? Senti tão vividamente o corte dentro de mim, aquela nota quase inatingível alcançando-me... Eram seus beijos úmidos, sua língua, sua linguagem; eram seus gemidos ao pé do meu ouvido, eram suas coxas presas entre mim e a parede. Adorava quando ela vinha até mim, e sussurrava: "Amor". Seus abraços comigo eram sempre intensos, e entregues - passei a gostar mais de abraços com ela - vi no abraço, a representação de uma saudade presente, e isso prossegue, hoje, sem esse abraço. Por onde andaria, tal pessoa? Talvez seja o maior dos beijos, o mais concentrado, o com mais sabores... Às vezes, caio em mim, e esse é o maior peso que poderia sentir; nosso movimento uniformemente variado, nosso tempo de queda. Dessa forma imagino o seu retorno, pingando, sangrando sobre mim seu peso, sua forma mais pura.

sábado, 3 de julho de 2010

Chiaroscuro

Enquanto escrevo, está anoitecendo e certamente as pessoas já estão a caminho de casa. Outras tão certeiramente, devem passar como fantasmas em minha mente, porém faço um distúrbio na frequência das ondas tentando não imagina-las; e fico decepcionado por saber que elas passaram dentro de mim e nada pude fazer. Prefiro andar e não me importo em saber que dentro de outras veias estou, prefiro passar naquela passarela à noite, onde certamente outras pessoas sentiriam medo de serem assaltadas. E eu não sinto, no máximo sinto o medo de ter que sentir medo daquilo e não reparar que os carros ali em baixo estão soltando luzes turvas, feito vagalumes presos no mesmo sopro de ar, seguindo a trajetória imposta por seus firmamentos, pelo sentimento de que algo importante o aguarda entrar na estação. Então penso: - Estamos de passagem - e assim fico corroendo-me por ser um passageiro também. Muitas vezes, nada surge-me à cabeça, a não ser fumaça, esse é o momento mais lúdico que poderia ter, pois é nesse instante que cuido de mim, que querendo ou não, planejo meus próximos passos. Se tudo fosse uma questão de ter que andar, seria um esquizofrenico proposital, andaria tanto, tanto que feriria meus pés em meio a arames farpados. Lembro-me de que não devo ter medo, mas a verdade que não totalmente se é uma questão de sentir-se na pele e sim uma questão de ser cortado, o que arbitrariamente não deveria ser uma questão coloquial e sim uma questão assumida quando assim ocorresse: "Quer dizer que sou um passageiro"? Então, deixe-me comprar meus bilhetes pra não sei onde.