segunda-feira, 14 de novembro de 2011

15 segundos antes de um colapso

Com meus passos falsos, caminhando sobre seu teto de vidro
Com o martelar das minhas profundas pegadas ...
Provocando rachaduras e dores em sua cabeça
Sua tristeza é a minha deixa,
Querendo se aproximar sem saber como!?
A fé que ele mantém em você é a mesma que eu tenho...
Meus cigarros estão aqui cantando seu nome
Venha buscá-los
Não ache que sua diferença é única
Voe por cima das divergências
Não se culpe, não ache que a razão é exclusividade sua
Não deixe que cuspam em você
Levante a cabeça, seja uma rainha ...
Controle com sua força, destrua os dragões
O que você diz ser amargura,
eu digo ser ... Caramelos ... pirotécnicos
Guarde sua fé para algo melhor
Não dê vazão o que ele diz
Seja dura como uma parede de concreto
Não pertença nem ao lado A e nem ao B
Fique comigo no mundo paralelo...
Invente, reinvente, faça o que quiser
Guarde seu coração sangrando
Em um pote de vidro
Se não sente vergonha mostre-o,
Para a peripécias da vida
Mas não se jogue, não se atire
Mostre-me ser o que eu sei que você é...
Mas sempre me surpreenda
Essa é a graça!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O eterno retorno

Esse final de semana, será o final, será meu grande retorno as minhas origens. Quando penso em rotornar, penso muito na minha terra, nos meus amigos e no desejo incontrolável de ir ao lago, abrir uma garrafa de brahma bem gelada, sentir a brisa, tocar um violão e trocar aqueles papos agradáveis como sempre fiz. Neste final de semana irei com certeza ao Lago de Javary, sentar, olhar as águas esverdeadas e pensar no quão feliz eu sou por poder estar onde quero!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Seu cheiro

Fiquei pensando, gélido, como uma estátua de São Petersburgo, parecia que meu sangue havia engrossado, e todo movimento que exercia tinha suas conseqüências, dores abdominais rondavam-me, uma tromba d’água parecia mergulha-me num subterfúgio, eu estava me sentindo mais inútil que um Sudro. Estava irrequieto, a madrugada passava lenta, tão lenta como o veneno mais cruel e aparentemente tudo isso iria circular por horas intermináveis. Abri uma garrafa de uísque e fiquei embriagando-me, era o único ato que parecia ser coerente com o que eu estava pressentindo, eu tomava longas doses, enchia minha boca toda, sentia o álcool corroer o céu de dentes e engolia, literalmente, tudo de uma única vez. Era a única coisa que me fazia sentir mais quente. Era o cobertor mais quente que eu poderia conseguir. Rapidamente a garrafa ia se esgotando, eu parecia um ralo sem rolha, tudo o que caía sobre mim ia descendo por completo. O cinzeiro rapidamente se encheu de cigarro, eu estava desesperado, estava com medo de perdê-la, e toda vez que me lembrava da sua imagem era um novo choro. Eu parecia uma criança, estava mais bêbado do que uma porca, e isso fez reduzir a quantidade dos meus neurônios para o nível mínimo. Fui até a minha pequena biblioteca e peguei o livro “Cem anos de Solidão” do Gabriel Garcia Marquez e o abri, era ali que escondia meu pó, cheirei todo aquele saquinho com apenas uma puxada e me senti um monstro, parado em frente ao espelho, não conseguia me reconhecer, meu rosto havia se tornado um grande borrão, o que acabou me deixando desesperado. Essas horas foram de pavor, de pânico, andava todo o apartamento compulsivamente, tentando devorar minhas idéias, tentando me esconder do medo, dos demônios que cresciam dentro de mim. Entrei no banheiro, tirei a minha roupa e me joguei debaixo do chuveiro, a água percorria a silhueta do meu corpo, e me meu coração batia tão forte como os tambores da guerra, eu estava submerso na idéia fixa de não ter mais Alice, dela pertencer a outros braços, um novo suor, que enriquecesse ainda mais a sua pele de sal. Sai do chuveiro, deitei na minha cama, ainda molhado, e tentei por horas dormir, sem sucesso, eu estava perturbado, havia um pensamento abrasivo na minha mente, estava precisando muito da presença de Alice, precisava sentir seu cheiro e foi o que fiz, abri o seu armário, abri uma mala de viagem dela e senti o perfume das suas roupas, uma por uma, e acabei ficando dentro da mala, misturado as suas peças de roupa, encolhido, até adormecer.

domingo, 23 de outubro de 2011

A noite nunca tem fim

      Aos meus amigos

 Liguei para o Gabriel e pro Francisco para marcar da gente tomar umas cervejas, estava tão feliz que tudo o que eu desejava era compartilhar minha felicidade com meus melhores amigos. Queria apresentá-los a Alice e perguntar o que eles achavam dela. Tinha quase certeza que iriam gostar, mas é sempre bom sentir o que os outros têm a dizer pra se ter certeza quando algo é verdadeiramente importante. Homem quando nasceu pra ser otário, é otário a vida toda e eu não queria ser um daqueles homens que não vê e não ouve nada por causa de mulher. Gabriel disse que iria ao encontro, mas acabou não indo, Emilie, a francesinha dele, havia voltado para França e ele me disse no dia seguinte ao nosso encontro que não estava se sentindo muito bem, algo completamente compreensível, quando algo importante se torna distante. Gabriel me explicou que ela precisava fazer uns exames médicos lá na França e que precisava ganhar uns “Euros” para quando voltar ao Brasil, voltar definitivamente, coisa que não demoraria muito a acontecer, pois em março estaria de volta pra ele. Francisco, sim, iria ao encontro, estava curiosíssimo para conhecer a mulher que tanto me ouviu falar. Encontramo-nos na Rua Dom Hélder Câmara, na altura do Shopping Nova América, para irmos juntos ao “Escritório”- Bar da Tijuca que marquei de me encontrar com Alice. Pegamos o metrô e não mais que meia-hora estávamos no local combinado. Alice me disse que levaria uma amiga pro Francisco que já, antes mesmo de conhecê-la, tinha motivos suficientes pra gostar dela. Gostou ainda mais da Alice quando viu a Raquel, sua amiga, que era tão pequenina quanto ele, porém, apesar da estatura, tinha uma beleza que quimicamente era compatível com a dele. A Raquel tinha um par de coxas grossas, sóbrias, que deixou meu amigo titubeando, ou melhor, babando, apenas no ato de comê-la com os olhos. Entre algumas conversas mescladas entre nós, num curtíssimo espaço de tempo, eles dois já estavam se beijando e beijavam de uma forma que parecia que aquela cena na minha frente nunca iria ter fim. Estávamos mais misturados na nossa amizade do que a fumaça do cigarro que tragávamos, era como se o limite estivesse fugindo da nossa frente e estávamos tão dispostos a ultrapassar o velocímetro desse carro, que duas caixas de cerveja desceram facilmente por nossas guelras. Fomos praticamente expulsos do Escritório, já deveriam ser umas quatro horas da manhã de uma segunda-feira, pagamos a conta e partimos à procura de outro bar que estivesse aberto até àquela hora, coisa que não conseguimos achar. Decidimos ir para outro lugar, iríamos nós quatro no local mais improvável possível. Pegamos um ônibus, e fomos fazendo arruaça, o motorista do ônibus nos encarava com um olhar desafiador, como se pudesse a qualquer momento puxar um revólver e atirar na gente. Descemos na Praça da Bandeira, atravessamos a passarela, e entramos num local escuro, muito escuro mesmo, estávamos na Vila Mimosa. Todas as pessoas que vimos estavam completamente drogadas, aquele local emitia medo, parecia que a qualquer momento poderíamos ser abordados, ser assaltados, porém, nem o risco de perder a vida parecia um motivo grande o bastante para impedir que bebêssemos. Uma chuva fina de repente começou a cair e meus pés encharcaram-se pela água da chuva e por uma água negra, provavelmente de um esgoto a céu aberto, e isso era repugnante, era nojento, pois essa água estava parada dentro do meu sapato e eu a imaginava penetrando dentro da minha pele embriagando minhas células sadias. Vimos um bar ao longe, e ele parecia interessante ou ao menos sossegado; do lado de fora vimos que suas luzes azuladas não aparentavam discrição o que acabou guiando ainda mais os nossos olhos. Entramos e Alice logo foi pedindo uma cerveja, e antes mesmo do garçom encostar sua mão no freezer, Raquel perguntou a ele quanto custava e esse disse: - “Sete reais a garrafa”. Ficamos indignados. Mas não tanto quanto Alice, ela bateu a mão no balcão e disse apontando o dedo indicador na cara do garçom: - “Você é maluco por acaso”? – Francisco apenas colocou a mão no rosto e retrucou para irmos embora. Alice estava quase subindo em cima do balcão e se não a segurássemos teria batido nele devido à fúria que se desprendia do seu lado mais sombrio. E Alice não parava e continuava seu xingamento: -“Seu merda, seu filho da puta, vai tomar no cu seu garçom de merda”. Francisco enlouqueceu, estava morrendo de medo de sermos linchados por todos aqueles “cracudos” que estavam a nossa volta, realmente todos estavam nos olhando e parecia que a qualquer momento iriam vir calar as nossas bocas. Peguei Alice pelo braço e saímos todos nós correndo, vimos o primeiro táxi que surgiu e praticamente nos jogamos em cima dele, e como eu ria daquilo tudo, Alice e Raquel também se deliciavam com o que acabamos de viver, Francisco estava apavorado e só reclamava: - “Essa sua namorada é maluca, é maluca!” – E eu completei a sua afirmação respondendo – “Por isso que eu a amo, meu amigo, por isso que eu a amo”!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Frestas e Arestas

Acordei como sempre às 7 horas, eu arriscaria dormir uns quinze minutinhos além do que de costume, mas com aquele despertador dos infernos que não para nunca de martelar é impossível prever uma vitória. Sim, eu sou fraco e me rendo ao lado mais infeliz da invenção humana. Inclinei-me rapidamente numa certa angulação, que como um bom aluno de física que sou, diria que meu corpo alcançou cravados quarenta e cinco graus. Não há nada pior do que isso quando se está completamente de ressaca, a cabeça dói, os olhos lacrimejam e os ouvidos parecem entupidos, sendo tudo o que você consegue fazer é declinar, vagarosamente, ajustando na parte mais confortável do travesseiro a sua cabeça. Nesses momentos de negação tudo o que você pensa é: - Por que eu fui sair ontem? E não existe nada pior do que você ir contra a sua vontade, ou seja, eu não queria nenhum pouco sair, estava cansado, com sono e com uma determinação ansiosa de finalizar a minha tese sobre a teoria do caos. 

 O culpado disso foi o Francisco Casa Nova, meu amigão, que estuda história na mesma universidade que eu. Esses alunos de história só pensam e ejaculam provérbios, suas filosofias, e suas debandadas carregam o mundo todo com suas lábias frescas e convincentes. Eu disse que não queria, mas aquele jeito solto e encantador de me dizer que existem prazeres maiores do que os da física acabaram me levando a um pub. Realmente estava um pouco perturbado de sonhar com as equações trajando biquínis na praia de Copacabana.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Setembrino

Era setembro e o céu estava claro e azul. Eu novamente estava parado naquele trânsito infernal, preso dentro de um ônibus na Avenida Brasil. Todos os meus dias eram feitos de caos e desordem. Eu estava febril naquele dia, não estava me sentindo muito bem, queria dormir pro relógio passar mais rápido, porém nunca consegui fazer isso dentro do ônibus, eu invejava muito o garoto ao meu lado que chegava a babar de tamanho cansaço. Tudo o que me entretinha, naquele momento, era que devido ao forte sol saiam fumaças do asfalto, nunca tinha visto isso. Tempo assim, sempre me deixa um pouco doente; é uma reação que o meu corpo tem quando o frio esta chegando, me disse uma vez um médico. Logo comecei a espirrar. Desci na suburbana, passei na padaria do Seu Pedro, esse que já me deu um saco com exatamente quatro pães e fui andando pra casa, peguei um pedaço de pau, como todos os dias faço, pra tocar o cachorro do vizinho que sempre consegue morder as bainhas das minhas calças.

Eu estava morando há pouco tempo no Rio de Janeiro, eu me mudei pra tentar melhorar de vida, me dar uma oportunidade, só que descobri que quem nasce cuzão morrerá dessa forma. Eu morava menos de seis meses aqui e não tinha nenhum amigo, sequer tive tempo de ir conhecer o Cristo ou ir pra qualquer outro lugar... Eu nunca havia visto o mar. Eu sou do interior do estado e assim que cheguei consegui um emprego em telemarketing, não que eu chame isso de sorte, pois todos os dias eu tomo um esporro do supervisor, ninguém sabe meu nome ou se importa comigo. Não sei sobre as festas, não trai minha mulher, não tenho uma, a única coisa que sei é sobre o Flamengo, tenho o sonho de ir ao Maracanã, porém nunca tive coragem de me arriscar por aquelas bandas. Eu poderia facilmente puxar papos sobre isso lá no trabalho, porém não tive a sorte de encontrar um flamenguista que eu julgava ser legal.

Eu consegui com muita sorte alugar uma pequena casa numa vila, pago metade do meu salário nela, ainda não consegui comprar os móveis, só consegui comprar um colchão e um rádio de pilha e ter isso me deixava muito feliz, ter as minhas coisas, meus sonhos e meu espaço no mínimo é reconfortante. No Rio de Janeiro faz muito calor e é quase impossível dormir dessa maneira, minha próxima meta é um ventilador, por enquanto vou sofrendo, segurando as pontas das noites mal dormidas. Nessa vila existem muitas pessoas e é engraçado como as pessoas nessas cidades são diferentes, todos vivem na mesma vila e aparentemente umas tem mais dinheiro do que outras, uns ostentam um carro, enquanto, outras madrugam comigo nos pontos de ônibus. As pessoas aqui são esquisitas, pessoas de cidades grandes são entronas fofoqueiras e sempre muito mal-humoradas, não que no interior não tenha isso, só que agora estou vendo isso em escala industrial.

Na minha cidade, Miguel Pereira, as pessoas são mais solidárias do que as daqui, aqui tem muito descaso, muita sujeira e poluição. Eu ainda não consegui me acostumar com os mendigos, sempre que vejo fico de coração partido, uma vontade de fazer alguma coisa por todos eles, porém eu não tenho condições pra isso. Pra falar que não faço nada, ajudo um senhor dando o que comer, isso quando ele aparece, teve uma vez que ele sumiu por mais de três semanas. Eu não sei o seu nome, acho até que ele não fala, deve ser isso, ele deve ser mudo, nunca me respondeu.

Eu sempre janto numa pensão ao lado da vila, a comida lá é barata e gostosa, porém eu me cansei de ter que comer sempre a mesma coisa todos os dias, duas variações de prato, num período de seis meses é dose, mesmo assim, eu não pensava em mudar de lugar pra comer, eu gostava da Tia, ela foi a primeira pessoa que conversou comigo, parece ser a única um pouco interessada em saber como foi o meu dia, como estão às coisas no trabalho, e eu sempre minto, digo que estou gostando, que tenho vários amigos, talvez, eu não queira confessar pra ela que eu sou um fracasso. Ela sempre diz pra eu trazer meus amigos pra ela conhecer e eu digo que um dia trago. Seis meses. Ela me pergunta sobre isso todos os dias. Quando irá conhecê-los, acho que ela tem a leve sensação que eu não sou uma pessoas feliz. Depois de mentir descaradamente pra ela nesse período, ela me disse, hoje, que eu sou uma pessoa boa, uma pessoa especial, eu dei um sorriso meio sem graça, e fingi estar agradecido. Eu não era uma pessoa especial. Era um tolo.

domingo, 9 de outubro de 2011

Cantos de desassossego

Sentir-se livre, solto, eram uma das coisas que nunca entendi muito bem, o significado dessa merda toda, os porquês que tudo tendia a necessidade de ser assim. Sempre odiei essas porras de hippies, e continuo odiando essa necessidade de paz, de cor e de viadinhos saltitantes. Sempre fui focado demais nas coisas que me pareciam importante, sempre meu umbigo, o universo que me interessava. Meu umbigo de galáxias era perfeitinho demais pra pedir a necessidade da atenção de alguém. Isso não me tornava uma pessoa ruim, muito pelo contrário, as pessoas me achavam engraçado, às vezes chato, confesso; porém era um circuito de pessoas que eu liberava para freqüentar meus arredores.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Café com leite de rosas

Tudo começou com uma música e certamente terminará da mesma forma. Essa música representa a intensidade dessa história, desse amor ordinário e controverso. Eu me odiaria se a música fosse outra, odiaria amar outra pessoa, poderiam até trocar as vírgulas, os parágrafos, à intensidade, o calor, a chama ou qualquer outro desenrolar, isso eu guardo pra mim, me basta. Às vezes, estamos tão fundo dentro de nós mesmos que não enxergamos que a solução das mazelas é deixar-se a deriva, deixar que as pessoas entre e estourem a bexiga, explodam aquela consciência fugaz, e te libertem daquele precipitar de solidão. Depois de muito tempo me sentia vivo, vivo o bastante pra me tornar amigo do tempo, das horas... Eu estava pronto pra viver, pra me jogar abaixo desse abismo e voar sem rumo. É bom pensar que a vida é assim, um tiro num peito de um morto, uma constante busca pro nada, uma história que se compõe a partir de um empurrão nas suas costas.

A gente ainda não sabe como discernir o que é real ou o que não é: Sabe o que me perguntei um dia desses? Uma pergunta simples. - Por que não? As coisas chegam a um ponto que se você se entregar a dor de barriga, ela, certamente, irá te assombrar pra sempre, eu não queria isso, aceitar que as coisas têm que ser impostas. Sempre aceitei tudo, com os ouvidos de burro, e sempre me senti instintivamente amarrado dentro desses pensamentos inúteis, desses excrementos, desse exercício diário que a rotina propõe. De repente, eu comecei a pensar, pois tê-la fez com que eu enxergasse um pouco a luz que havia sido destinada pra mim. Estava participando do seu céu, caprichosamente, dormindo nas suas nuvens, e esse foi o estímulo bom o bastante para dar um basta na minha vida.

domingo, 18 de setembro de 2011

Conto - O segundo dia

Peguei a calça de moletom no chão, abri o armário, peguei um casaco de lã e constatei que hoje fazia bem mais frio do que ontem. Meus dentes se batiam de tamanho frio, há muito tempo eu não via um frio daqueles, fui abrir a janela do quarto para descobrir que não é pra abrir essa ou qualquer outra janela nunca mais. Peguei o cobertor, joguei-o sobre meus ombros e fui à cozinha preparar um saboroso café. O pão eu coloquei numa chapa para esquentar e sobre ele passei uma manteiga, essa, que derretia com tamanha perspicácia que não me contive em dar uma mordidela. Levei tudo para o quarto, voltei a me cobrir, liguei a televisão e me senti como um conde solitário. Tudo parecia controverso, nenhum pouco satisfatório, porém estava me sentindo disposto e com uma vontade de escrever algumas coisas... Peguei a máquina de escrever, colocando-a sobre o meu colo, e continuei dando valor as fumaças que me rondavam naquele momento. Escrevi umas cinco páginas que até as considerei boas, mas completamente monótonas, estava me sentindo tão confuso quanto Jean Genet no início de o Diário de um Ladrão. 

Consegui levantar da cama, de acordo com o relógio, umas duas e quinze da tarde. Tirei as remelas dos olhos, tirei uma meleca do nariz e cocei meu ouvido esquerdo com o mesmo dedo que fiz todo o resto. Por isso é bom estar sozinho numa casa, sei lá, você se sente mais homem nessas horas, se sente mais livre de alguns conceitos. Fui ao banheiro dei uma bela de uma cagada e li metade do jornal que trouxe da viagem de ontem. Lavei minhas mãos e fui diretamente à cozinha preparar uma macarronada sem molho. E como estava ruim aquilo, puta que pariu, eu não sei por que insisto em coisas que não tenho talento. Uma coisa que devo confessar agora, eu sou muito chato com a minha teimosia. 

Eu estava precisando muito de cigarros e de bebidas quentes. Arrumei-me rapidamente, procurei um casaco bem grosso, coloquei uma touca que tampasse bem os meus ouvidos e procurei um guarda-chuva que fosse grande o bastante pra tampar três de mim. Ontem, enquanto passava de ônibus, vi que havia um mercadinho que julgava não ser muito longe daqui. Errado. O mercadinho era uns vinte minutos afastados da casa de praia, falando assim, nem parece muito longe, mas porra, vinte minutos de baixo de chuva, com toda a água que caía, é se considerar um pouco anfíbio. Enfim, cheguei ao mercado, encharcado, e fui logo à cessão de bebidas. Fui pegando, vinhos, uísques conhaques e afins. Fui ao caixa e perguntei à única pessoa que trabalhava naquele estabelecimento: - “Onde encontro os cigarros”? Ela parecia um pouco entediada e me respondeu: - “Vire-se”. Eu me virei e havia um grande anúncio de cigarros. Peguei três maços de Marlboro Light e perguntei quanto sairia tudo o que havia comprado: - “Tudo sai por quarenta e sete reais” - me respondendo ela friamente. Dei o dinheiro e saí porta a fora. 

Chegando a casa fui logo tirando todas as roupas molhadas e me direcionei ao banheiro. Fiquei nu, abri o registro do banheiro, e esperei que a água esquentasse o suficiente para que o “box” se enchesse de um vapor fervente. Nessa espera acendi cigarros, um atrás do outro, e fiquei pensando em branco. Entrei em meio à cortina de fumaça e senti aquela água tateando meu corpo, ficando horas e horas me deliciando, perdendo ou ganhando tempo, tanto faz, só sei que aquilo era distante demais do que eu havia sido induzido a fazer. Tomei o banho mais longo da minha vida, apressei-me para colocar roupas secas e bem quentes e abri uma garrafa de vinho. Liguei a televisão e fiquei assistindo a novela das dezoito horas. Acabei, pelo marasmo, cochilando. Acordei passando um pouco mal, uma dor no estômago que me doía intermitentemente, era uma dor tão forte, tão contundente que pensei várias vezes em sair atrás de um posto de saúde. Porém, chovia muito e o frio, que nos atravessa a carne, era algo indescritível até para um europeu. Por maioria de votos decidi ficar sofrendo no meu silêncio. 

Passei horas e horas implorando que aquela maldita dor passasse... Eu já fui a centenas de médicos, fiz milhares de exames e ninguém nunca me disse o que realmente eu tinha e de onde surgia todo aquele berro. Confesso, eu até comecei um tratamento, certa vez, era uma tratamento homeopático, muito demorado; porém, sou muito impaciente com resultados prolongados e acabava que em vez de tomar um comprimido, eu engolia de três a quatro diariamente. Só existia um método que funcionava contra isso... E eu o fiz.

sábado, 10 de setembro de 2011

Conto - O primeiro dia

     Chovia bastante, o que estava sendo comum naquela semana, e da janela meu maior divertimento era olhar o percurso da água na calha do telhado da garagem. Normalmente, nessas horas de reflexão, eu acenderia um cigarro e me libertaria de alguns pensamentos contundentes, porém tinha tanta preguiça de molhar meus pés e sentir o frio daquele vento que decidi que pra mim o melhor mesmo era estar na nostalgia. Eu, facilmente, poderia estar vendo um bom filme ou lendo um bom livro, só que não há nada de bom pra se ver ou ler nessa casa de praia. Tudo sempre foi um engano. 

     Meu maior sonho era ser um escritor, só que eu sempre fui preguiçoso demais pra terminar qualquer coisa. Eu até tinha começado um livro, por um tempo aquilo me fazia perder horas, coisa que ocupava meu tempo e minha cabeça, mas depois tudo se tornou um grande martírio, uma verdadeira encheção de lingüiça. Alice disse que o livro estava ficando ótimo, só que eu não tinha certeza de quase nada na minha vida, tanto não tinha que nem sabia o que Alice era minha... 

     A chuva já não me entretinha mais. Decidi então, por muita vontade de fazer alguma coisa, que cortaria a barba. Fui ao banheiro, fiquei de frente ao espelho, dei uma bela visualizada no meu rosto e decidi que não... Não cortaria a barba. Ela estava do jeito que eu gosto e certamente Alice reprovaria meu ato. Sabe o que ela diria pra mim? - “Marcelo, desespero não combina nenhum pouco com você”. E não existe nada que eu odeie mais do que dar razão a ela. Chuva, chuva, chuva, chuva, chuva. Sozinho, sozinho, sozinho. No meu discurso profético do anoitecer, certamente, teria muito dessas duas palavras. Já está escurecendo e isso é sempre bom pra se sentir mais próximo do amanhã, pois à noite, eu consigo pensar um pouco melhor, pode parecer mentira, mas com o barulho da chuva e quando não se vê as estrelas no céu eu fico bastante inspirado a escrever. Diferente de alguns poetas eu não preciso da lua pra nada. 

     Mesmo inspirado, eu tinha preguiça, muita preguiça mesmo. Outra coisa que odeio, tirando dar razão para Alice, é ter sono quando estou com vontade de escrever. Cara, por que isso sempre acontece comigo? – “Não sei, não sei, mesmo”. No relógio da parede marcavam meia-noite e fiquei um pouco realizado em ter lutado contra toda a profundeza do que é a preguiça e o sono em mim. Fui ao banheiro, escovei meus dentes em cinco minutos cravados, como costumo sempre a fazer, levantei a tampa do vaso sanitário, me curvei e joguei um pouco a cabeça pra trás, dei um gemidinho básico, dei uma sacudidela no meu pau, limpei com papel higiênico o canto do vaso que tinha mijado, puxei a descarga, apaguei as luzes, acendi as luzes, pois havia me esquecido de lavar as mãos, sequei as mãos na toalha de rosto e fui tentar dormir. 

     Exatamente, caro leitor, eu fui tentar dormir. Ao mesmo tempo em que chuva e noite me inspiram elas me tiram o sono, porém lutei como um guerreiro. Meu primeiro ato foi ficar quieto, o segundo ato foi relaxar, o terceiro ato foi tampar meus ouvidos com o travesseiro, o quarto ato foi pedir a Deus pra me fazer dormir, o quinto ato foi mandar tudo se fuder, o quinto ato achei melhor nem escrever aqui. Fui à cozinha. Abri a geladeira e fiz um sanduíche de presunto e queijo, preparei um suquinho de laranja e me sentei à mesa, puto, muito puto mesmo, com essa situação de seu corpo implorar pra dormir e sua cabeça não parar de pensar um monte de sandices. Eu não gosto de criar estímulos para dormir, mas porra, eu já havia me realizado naquele dia e não havia mais nada pra fazer, já havia até começado a escrever alguma coisa. Decidi procurar e só depois de muito tempo que consegui achar o Rivotril. Tomei um comprimido daqueles e mergulhei num profundo e sonolento marasmo, vagarosamente fui me deitando, me cobrindo, me aconchegando, ralando a cama e finalmente apagando.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Café e Açúcar

Eu senti algo congelando dentro de mim, parecia que havia água fria passando pelas minhas veias, só de vê-la passando pela porta, indo embora, e nem se passaram três segundos para bater aquela saudade do seu cabelo crespo. Nunca me senti só e imprestável como ontem. Meus planos desmoronaram como castelos de açúcar e todas as chances que havia conquistado não passaram de um deletério. Eu não sei o que acontecia, como as coisas tomaram essa forma, só sei que em questão de segundos me senti pior do que um cão. Eu estava arruinado, assim, como meu amor...

domingo, 4 de setembro de 2011

Afogando-se em seu próprio mar de fel

A cama havia sido preparada e eu nem tinha reparado. Não propriamente poderia chamar aquilo de arrumação, mas foi à forma delicada que ela viu para me dar conforto. - Apenas escondeu o lençol e jogou sobre a cama uma toalha úmida. Penetrá-la foi bom, seu corpo movia-se, ora seguindo o meu balanço, ora parecia ter vida própria, seus movimentos descompassados eram ricos e diferenciados, e proporcionaram-me prazeres inolvidáveis. Ficamos por algum tempo deitados, olhando para o teto cheio de infiltrações, sem sequer dizer uma palavra um para o outro. Ela virou-se de lado, com suas costas voltadas para mim, e eu pude claramente reparar nos seus pulmões enchendo e esvaziando de forma ofegante, suas costelas sobressaiam estufando sua pele quando o ar a visitava. Abracei-a, generosamente, grudando seu corpo ao meu, dei-lhe um beijo singelo no pescoço, e ela buscou meu braço, como se naquele ato quisesse me dizer algo, como se buscasse a proteção que nunca conhecera em toda a sua vida. Eu achei agradável aquela demonstração de carinho: - “Só não achei que encontraria isso com uma puta” - e estava tão gostoso o momento que ela parecia há primeiro instante ter dormido. Eu consegui desfazer-me dos seus braços e vesti-me rapidamente. Enquanto calçava meus sapatos, sentado à beira da cama, pensei, juro que pensei se a pagava ou não. Confesso, hesitei por um instante, acendi um cigarro como se quisesse nesse ato encontrar o meu caráter. Olhei para ela nua atirada sobre a cama, certamente vencida pelo cansaço, em seu corpo pequeno e frágil e notei a covardia que seria se não a pagasse. Retirei uma nota de cinqüenta reais do bolso da minha calça, muito mais do dobro do preço que me cobrara, e o deixei sobre o criado-mudo ao lado da cama, e sai em silêncio, sem sequer olhar para trás. Na rua, em meio a algumas pessoas bêbadas, olhei para cima buscando, despedindo-me, e surpreendi-me ao vê-la enrolada em um lençol fitando-me, retirei o chapéu como forma de comprimento e, ela sorriu como se quisesse me ver novamente.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dirigindo, meu bem, dirigindo pelas estradas abaixo da cintura

Passando por ruas desertas, caminhos tão ocos quando um coração solitário, o céu compenetrado derrama seu cetim de afazeres. Todo o espaço do mundo estava ao meu lado, e nesse todo, nesse tudo, era onde queria passar minhas horas de desespero, de felicidade, de sabor, uma mística que falava sobre união, sobre manter-se compenetrado, como uma pápula, como uma semente que germina e prontamente se suicida. Eu estava amando tudo aquilo. O cheiro do seu cabelo, o toque em sua pele macia, o deletério não conjugado. Seus olhos me cercam, me matam; olhos que arrancam os tijolos da minha base e me deixam desmoronar numa frouxidão de nervos, em veias que de tão esticadas se desmancham como farelo de pão. Os ventos falsificados que torneiam os nossos corpos descrevem a necessidade que temos de nos manter estáveis nos duzentos graus, de conjugarmos na loucura, na redundância dos nossos movimentos descompassados. Eu amo estar por baixo e passar as minhas mãos por entre as montanhas esperando que tudo, que tudo, que tudo se arruíne e venha abaixo como um vulcão.

sábado, 27 de agosto de 2011

Eu não vou...

Pode parecer ridículo, mas permanecer, assim, achando que todos são babacas e menos espertos do que eu, está me fazendo muito mal, está me afastando cada vez mais de mim e do mundo. Queria que Deus fizesse as pessoas pararem de ser babacas e estúpidas, pois se existe alguém que quer me dar uma vida melhor, saiba: - "Eu não vou mudar"!

sábado, 20 de agosto de 2011

Conto - Pontos de interrogação

Era um sábado, tão monótono como qualquer outro em minha vida, acordei descabelado, bêbado e com uma ressaca que explodia as têmporas das minhas cabeças. O banheiro como sempre se encontrava imundo, papéis encharcados de merda transbordavam as cestas, os espelhos escorriam o flúor das pastas de dentes e dos sabonetes nasciam raízes de cabelos. Do jeito que me encontrava, encharcado pelo mormaço das noites, não podia dar o valor de recusar um bom banho. Sequei-me com uma toalha úmida que de branco passou à marrom, escovei meus dentes com pressa, e como não poderia ser diferente dei uma bola para suportar o resto do dia com um sorriso chinfrim na cara.

Na geladeira a única coisa tragável era a sobra de um mamão com mel de ontem. Limpei a mesa com apenas um ato e um braço, acendi um cigarro e me senti num mar de veneno, nessa lama inventada, nesse sangue das taças, nessa vida de margens. Entre todos os males o que menos incomodava era a doçura do mel... Eu sabia. Li no seu rosto o fogo, o gosto, o gozo e mesmo assim me virei de lado, ignorei seu sorriso, seu semblante apaixonado que me sussurrava carícias, afagos e gestos nobres no fundo do fim.

Meu pensamento estava nela, no telemarketing, no instigante sorriso que eu não podia sequer seqüenciar, mapear, decodificar. Eu estava tão morto quanto vivia, e dentro desse ato, dessa lama, desse comprado meio de vida, estava limpo e seco de saudade. Uma cigarra canta em meu peito, para assim, quem sabe, encontrar um delírio mais limpo para suportar a sua loucura, sua doçura e as estrelas da sua realidade.

domingo, 14 de agosto de 2011

Amigos, Amigas, Cachorros e Dragões

Muitas pessoas beijam sobre o efeito do álcool, se soltam, se libertam e fazem todo o escarcel de prazer, como se a cachaça limpasse as roldanas do motor do sexo, da libido... Depois, quando acordam desse céu de corpos, culpam o álcool por beijar amigos, amigas, cachorros e dragões. A sensação do álcool é o que liberta o que estava profundo em você e isso é bom, é forte, quente, tentador. As desculpas do arrependimento não... São fracas, falsas e procuram culpar algo que faça os outros acreditarem que não, aquele não era você.

domingo, 24 de julho de 2011

Conto – Canções Dentro da Noite Escura

O engraçado foi que ela passou por mim e nem sequer um rabo de olho fez. Isso era diferente do que o Francisco havia dito. Eu gostaria que ela me olhasse com aqueles olhos tão pedintes depois de ontem... Acho que fiquei de certa forma frustrado com isso. Não que eu tivesse cem reais para dar se ela quisesse, pois não tinha. Eu queria sentir seu olhar comprado, da mesma forma como ela tinha vendido seu corpo pra mim e para o Sérgio. Eu fui o seu amante primogênito, como parte do combinado com o Sérgio. Primeiramente, ela despiu-se, ficou inteiramente nua, sim, intensamente nua. Olhava-a com olhos de cão faminto, tentando, buscando quais as melhores respostas para me fazer entender a silhueta do seu corpo. Meu cigarro queima, queima e, a fumaça sobe assim distorcendo meus olhos, lacrimejando-os, fazendo com que eu não a veja ou que assim acreditasse. Mas, enxergava bem, mesmo estando por trás das cortinas de fumaça e de todo o clima que nos cercava. Eu queria crer, tentei por minutos entender seu corpo, sua voluptuosidade, e as idéias que ali pairavam esquecidas. Mas não, não existia nada que eu pudesse fazer; tudo estava tão distante de mim naquele momento que preferi fazer os cálculos da sua beleza... Só somatórios. Ela caminhou em minha direção, caminhou não, gingou, bailou com suas pernas de bailarina. Ahhh sim, que belas pernas por sinal, carne macia as das suas coxas, carne assim de primeira, carne nobre. Eu permaneci assim sentado à beira da cama, tragando compulsivamente meu cigarro tão infinito, tão pecaminoso. Uísque, cadê o uísque? Sim, peguei-o, eu queria fazer o meu clima: “vamos esquecer o verão, pulemos diretamente para o outono”. Por que uísque barato e cigarro combinam tão bem com sexo? Não sei, não sei nem por que estou pensando nisso agora, e por que penso uma porrada de coisas assim do nada. Minha cuca pede socorro, eu peço alarme, peço alarde. Ela arrepiou meus cabelos com suas mãos, puxou-os com moléstia, com força, porém de forma carinhosa. Olhei-a bem nos olhos, fitei-a enquanto seu rosto aproximava-se, ela me beijou. Beijo bom, encaixado, ensaiado, apaziguado, fresco; nem tão molhado, nem tão seco, nem tão cheio, nem tão vazio. Perfeito, se é que isso existe. Ela tirou minha camisa, jogou-a em cima do ventilador e puxou-me de volta, de volta para o castigo que seu olhar oferecia. Empurrou-me, deixando-me de forma tão estirada na cama, de forma tão rendida. As mulheres são suficientes, querem sempre ir ao fundo de tudo, espremendo-nos, retirando o último caldo de nós. Pois bem, ela ficou por cima de mim prendendo-me no meio de suas pernas. Eu estava agora de coleiras. Toquei-lhe o seio com suas reverberações inexplicáveis com uma das mãos. Abri os braços sobre a cama, estava sendo crucificado, como um dia Cristo foi. Ela me beijou, passou sua língua sutilmente em meu rosto, e foi descendo, descendo pelo meu queixo, pescoço, peito e abdômen. Eu segurava-lhe pelos cabelos com força, quase que os arrancando, enquanto ela dedilhava suas notas sobre o meu pau. Com a minha outra mão levei o cigarro à boca, aspirava a fumaça enquanto a fazia transpirar. Eu olhava o teto enquanto ela divertia-se abrindo o fecho ecler da minha calça; olhava quase inerte as estrelas plastificadas ali coladas, estrelas de formas e tamanhos distintos que brilhavam, luziam, no escuro. Senti o frescor da sua boca tateando e da sua saliva lubrificando-me suntuosamente. Sim, era minha excitação máxima, como outros tão selecionados homens já sentiram na pele de seus paus. Ela percorria sobre mim como uma enguia, escalando sobre o meu corpo com suas garras afiadas, ferindo-me de um prazer sujo. Beijava-me como se eu fosse o amor da sua vida, honrando com louvor o seu par de seios. Meu cigarro apagou-se e eu deixei-o cair no chão ao lado da cama, estava na minha vez de senti-la, eu queria sugar-lhe pra dentro de mim, queria ouvir seu sussurrar ao pé do meu ouvido. Enfiei dois dos meus dedos em sua vulva e seus olhos fecharam-se como quem não tem vergonha de se declarar excitada; apreciei-lhe tão intimamente com minha língua que seu corpo levitava sobre a cama. Sim, ela estava pronta, podia sentir isso na ponta da minha língua, nos meus lábios a sua ebulição mais profunda. Ergui-me sobre ela e com um único movimento, penetrei-a tão voluptuosamente, tão veementemente, tão tempestuosamente que ficamos encaixados como uma peça certa de um quebra-cabeça. Seus gemidos apavorados ecoavam pelos quatro cantos do quarto. “Vira pra mim”, - eu pedi com uma entonação de ordem, e ela sem ao menos dizer uma única palavra virou-se. Olhei primeiramente, admirei-a para ser mais correto, suas curvas tão pecaminosas merecia tal feito. Seu corpo se mexendo gritava, suplicava de fato para que eu fosse o seu término; e de fato, era o que eu queria ser. Segurei-a pela cintura, enquanto seu rosto afundava sobre o travesseiro, e sim, meti-lhe com tudo o que eu poderia. Entre gemidos ela pedia-me: “Vai, vai, não para, não para”... Isso pra mim foi uma sinfonia. Movimentos horizontais tão encaixados que de fato, éramos apenas um indivíduo de quatro pernas, duas bocas, quatro ouvidos e dois seios. Tudo perfeitamente para se deixar relaxar, tudo propício a isso. Seu gozo saiu quente sobre mim, saiu em forma de grito, de gemido ou apenas de um esplendido sussurro que se fazia voraz naquele momento. Faze-la ter um orgasmo fez-me ter um também... Quando tudo estava acabado deixei meus cem reais na cabeceira ao lado da cama, dei-lhe mais um puxão no cabelo e vi seu rosto humilhado. Nada que afetasse a mim diretamente, não aquele olhar pedinte, aquele olhar que queria me roubar alguns reais a mais. Eu poderia até dar-lhe mais algum dinheiro se eu tivesse sobrando, porém não tenho nenhum puto para passar meus outros dias solitários. Como disse, se eu o tivesse daria sem problema algum, não por seus olhos, e sim, pela foda que tivemos!
Assim que saí daquele quarto, foi-se o Sérgio apressado feito uma mula, bufando feito um boi bravo quando seu pau é instigado. Fiquei na sala da casa daquela mulher fumando meu cigarro em paz, relaxado em um sofá como deveria realmente estar. Não foi muito tempo que estava ali concentrado com meu cigarro que os gritos libidinosos começaram a ecoar de canto a canto. Depois de algum tempo, Sérgio surgiu com um sorriso estendido de orelha a orelha, feliz como um adolescente quando faz pela primeira vez sexo. Fomos embora, ela levou-nos ainda nua até a porta, e assim tudo tão prontamente desapareceu-se num segredo.

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domingo, 10 de julho de 2011

Veja bem, meu bem!


Do que adianta o amor se não existe dedicação? Eu passei uma vida inteira esperando pelo amor, em absolvição, em me render aos braços de alguém e seguir nessa trilha. Eu várias vezes pisei em falso, caí, me ralei, e no final das contas nada valeu muito a pena. Ter você foi o meu maior sonho. Talvez, como você mesma disse, eu seja um cara do interior e as coisas aí sejam diferentes. Posso não saber o que é o Outback, Ovomaltine; porém, amor, existem coisas que vivi, que senti, que presenciei e aprendi que são muito mais importantes do que qualquer uma dessas coisas. Quando te liguei, me entreguei e me dediquei, pelo simples motivo de te querer bem, de te amar e demonstrar todo o meu amor por você. Se me preocupo é porque amo, se te quero bem é porque te amo e se sou chato é pelo motivo único de sentir amor.

Eu sou assim, às vezes, meio confuso, mas dentro desse meu emaranhado de esquisitices tenho um sentimento tão nobre, puro, ingênuo que qualquer um poderia roubar. Talvez, necessite ter que mudar da mesma forma que os pássaros trocam as suas penas... Porém, amor, certas convicções são tão grandes dentro de mim que julgo não haver mais jeito, elas estão imaculadas, grudadas, coladas com super-bonder em mim... E não há amor que sobreviva sem a dedicação do fogo, da alma, da atenção, do cuidado e principalmente da responsabilidade. 

Não quero brigar com você, brigar é feio, e dentro de mim não cabe esse sentimento... Eu estou tão mal, meu bem, é como se tivesse um inferno em mim. Amor, saiba, no momento que não existir mais preocupação, acredite... Não haverá mais amor!

E amor é muito mais do que palavras bonitas, amor é uma demonstração diária de afeto e respeito... Quantas vezes, abaixei a minha cabeça e te prometi mudar? Quantas vezes o silêncio gravou em mim as suas notas? Em qual momento eu não procurei corrigir e aprender? Dedicação por mim nunca faltou! Eu me dedico pela sua vida como se ela fosse minha... E sempre, em quanto estivermos bem, vou procurar fazer isso... atender o que mais te aflinge, o que mais te magoa... Talvez isso que se aprenda por essas bandas daqui...!

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domingo, 22 de maio de 2011

Azulejo

As luzes estavam apagadas e eu encontrava-me brincando com o meu chaveiro, não apenas um chaveiro, muito mais do que isso, era também uma lanterna que emitia uma luz azulada. O relógio prateado encontrava-se na parede e as horas no escuro para nada me serviam. Dei-me conta de que não tenho noção de tempo e chutei que estava nessa brincadeira no breu por trinta minutos. Apontei a luz azulada no relógio prateado e descobri que estava cerca de duas horas refletindo, não sei o que, na imensidão do escuro. E pensei: - “Por que não vivo no escuro”? Por que não perco a noção do tempo? Penso em como seria bom não ser notado, criticado ou até mesmo apunhalado. Às vezes, queria fugir sem sair do meu lugar; saber como perder a noção do que é ter a noção do perder. Se é que dá pra entender isso que disse agora. São tantas coisas ao meu redor, tantas coisas que meus dois olhos castanhos não captam que eu perdi o foco do que olhar. Estava com fome e meu estômago tornou-se num grande ruído que intermitentemente assombra-me. Sinto falta de rever certas pessoas, sinto falta de ser importante; aqui sou apenas mais um desesperado que procura ter um nome. Estou com fome e as pessoas não são generosas...

terça-feira, 10 de maio de 2011

O carnaval

A memória permanece extasiada como um inferno, e dele, o inferno, eu faço um carnaval de drogas e alegorias inquietantes. Como solução de que? De uma possível volta talvez, de uma reviravolta do meu coração em conserva. Não espero disso que escrevo agora um sopro, apenas um espirro de vida, malhando-me, colorindo-me de tons tão claros já que não creio que a felicidade plena exista. Dê-me pelo menos um dos seus pigmentos momentâneos pra fazer-me assim, pelo menos mais humano. Não penso em grito, não penso em ferir minha garganta, não penso em nada que não seja você de volta pra mim. Pensando assim, de forma tão egoísta, decidi-lhe escrever esse livro como forma de recompensa por ter-me abandonado, por ter-me esquecido. Sei dos motivos maiores e das conseqüências que certamente criei, mas espero que pense bem sobre isso quando eu abrir a minha vida, esticando-a como uma bexiga velha. Existe muito de você dentro de mim, meu coração como bem sabe é pequeno e guarda rancor pelo planeta e seu movimento de translação. Não me leve a mal se desagradar-lhe, pois dentro do meu minúsculo coração existe muito seu nome, como alimento, como base de uma suposta inspiração. Você já leu parte dos meus manuscritos, sabe bem sobre o entendimento que tenho das coisas e sobre você. Você é uma prepotente quando diz que não a conheço tão plenamente. Cobrou de mim o entendimento total dos seus neurônios quase mortos. Pediu que escrevesse um livro sobre você, e tão decididamente não escreverei um livro teu, e sim, sobre mim. Como você bem disse: “Você não me conhece essa que se referiu não sou eu”. Pois bem, eu sei cada caminho das suas coxas e cada luz dos seus pêlos, não diga algo que você não sabe sobre você mesma...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

...

Sabem aqueles dias que você acorda com uma sensação estranha, uma dor aguda dentro do peito, um cheiro diferente, no céu há nuvens negras e na boca um puta gosto amargo de morangos mofados? Então, esse é o sintoma quando algo precioso da nossa vida parte e não há a possibilidade de ao menos dar e receber um abraço.

domingo, 10 de abril de 2011

Conto - Se juntin nois dois drumisse

   As rezas vinham diante da sua vida por todo o apelo do seu sofrimento, rezava sem parar para que Deus lhe ouvisse; não queria mais ver o solo arenoso e nem as rachaduras infinitas que se penduravam pelos vãos ocultos da sua dor. A sua esperança estava morta como o resto da vizinhança e a solidão pelo contrário do que eu poderia imaginar não foi o seu maior dilema; a vida sim se impregnava com um aroma diferente, uma sensação amarga de se obter uma resposta pelo seu suposto castigo.
   As pessoas fugiam com medo da seca, algumas fugiam levadas por anjos, outras preferiam morrer no inferno as bordas da linha do equador. A sua pele desmoronava tristeza, sua fraqueza física era evidente e cuidadosa, um disfarce da grande força que se escondida pelos belos vestidos da sua alma, porém a sua vida se esvaíra em um processo paulatino, pois a fome gritava nos seus ouvidos surdos enquanto a sede era o fio de uma morte anunciada.
   Ele sempre viveu à base desse sofrimento, pois ela, a sede, sempre matou e destruiu o amor da permanência, o amor da prolongação de uma vida e da certeza confirmada com o olhar da sua experiência. Mas dessa vez era diferente a estiagem, ela se prolongava pelos meses à dentro, vinha com uma brutalidade que em todas as suas cinco décadas de vida ele jamais havia visto, presenciado, tamanha destruição. A árida paisagem não consolava nem mesmo aos mortos, nem mesmo Deus acreditava que pudesse alguém sobreviver naquele inferno, onde até os sonhos eram evaporados pelo calor presente naquela inapropriada realidade. Eram assim os seus dias, eram assim os seus meses, era a vida que corria fugida pra se consolar com a morte.
   Deus não lhe ouvia e pelo jeito até mesmo o grandioso pareceu ter se esquecido daquele pobre senhor, porém isso era apenas mais um abandono, mais uma tristeza absorvida e embrulhada num papel celofane vermelho. Seus sentidos foram todos acumulados em uma caixa oca e sem vida, porém a única que não cabia em lugar nenhum era a dor de existir um sofrimento em toda a sua vida. Talvez de tanto sofrer seu coração tenha se tornado calejado, pois era fácil pra ele suportar mais uma dor quando tudo o que se via ao seu redor era o nada. À noite ele podia ficar perto de todos, olhava as estrelas em um balé de luz, mesmo não tendo certeza, queria encontrar seus filhos no luzir da lua, no paralelo de uma realidade diferente da sua, no crepúsculo da verdadeira felicidade.
   A revolta dentro da sua ignorância crescia em progressão aritmética. Por que ele? Já não bastava ser esquecido por todos? - Sua pergunta pairava no ar enquanto a resposta era evaporada pelos raios do sol da manhã...
Uma decisão – Foi o que ele pensou - Seria o último dia que iria fazer suas preces, não iria direcionar sua fé a Deus e sim ao Diabo que combinava mais no inferno em que ele vivia. Feito e dito. Pediu ao Diabo a bendita chuva enquanto seus olhos se fechavam lentamente ao brilho da última estrela.
   Quando acordou não existia mais o amarelado da luz, enxergava uma escuridão formada pelas nuvens de chuva. Em todos seus anos de vida jamais havia visto um céu daqueles, um negro carregado de ódio, o desejo lúgubre realizado pelo seu lamentoso pedido. Levantou da cama e ficou desfrutando o ar gelado que invadia a única janela da sua casa, um pingo acertou-lhe a testa ferindo sua pele castigada pelo sol; ele saiu de casa e correu feliz, pois estava rodeado pela chuva e grato pela nova vida que o Diabo havia lhe concedido.
   Viveu assim, grato pela bondade do Diabo, nunca mais passou fome, havia até esquecido o que era a sede. Viveu muitos anos, até que a canção da morte cantou-lhe os ouvidos. Ele morreu tendo uma amarga ilusão, ele não tinha idéia que a chuva não foi coisa do Diabo e sim as lágrimas de um choro divino.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O sonho

Tudo sempre começa com um pesadelo, uma sangria a conta-gotas em mim, e com uma vontade de permanecer na horizontal como na freqüência cardíaca de um morto. Eu sempre acordo suado depois desse maldito pesadelo, é algo que me persegue há alguns anos, uma cauterização que não me livra das moscas. Há muito tempo que não rolava essa história, muito tempo mesmo, mas agora ela voltou com tudo e sempre me sinto mal com esse infortúnio em mim. Nunca me lembro muito bem o que ocorre, e sempre agradeço a Deus por isso, fico só com o que julgo ser o final, o enredo sempre se esvai para algum canto no meu subconsciente, porém eu sei que ele está lá e prefiro mesmo que fique coberto. Algumas pessoas dizem que o que eu ando sonhando é referente à morte, no início achava isso uma balela, mas hoje com tudo o que vem acontecendo seria um método de salvação.

sábado, 2 de abril de 2011

Memórias de um homem esquecido

Essas horas foram de pavor, de pânico, andava todo o apartamento compulsivamente tentando devorar minhas idéias, tentando me esconder do medo e dos demônios que cresciam dentro de mim. Entrei no banheiro, tirei a minha roupa e me joguei debaixo do chuveiro, a água percorria a silhueta do meu corpo, e me meu coração batia tão forte como os tambores da guerra, eu estava submerso na idéia fixa de não ter mais Alice, dela pertencer a outros braços, um novo suor, que enriquecesse ainda mais a sua pele de sal. Sai do chuveiro, deitei na minha cama, ainda molhado, e tentei por horas dormir, sem sucesso, eu estava perturbado, havia um pensamento abrasivo na minha mente, estava precisando muito da presença de Alice, precisava sentir seu cheiro e foi o que fiz, abri o seu armário, abri uma mala de viagem dela e senti o perfume das suas roupas, uma por uma, e acabei ficando dentro da mala, misturado as suas peças de roupa, encolhido, até adormecer.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sudro

memórias de um homem esquecido

Fiquei pensando, gélido, com uma estátua de São Petersburgo, parecia que meu sangue havia engrossado, e todo movimento que exercia tinha suas conseqüências, dores abdominais rondavam-me, uma tromba d’água parecia mergulha-me num subterfúgio, eu estava me sentindo mais inútil que um Sudro. Estava irrequieto, a madrugada passava lenta, tão lenta como o veneno mais cruel e aparentemente tudo isso iria circular por horas intermináveis. Abri uma garrafa de uísque e fiquei embriagando-me, era o único ato que parecia ser coerente com o que eu estava pressentindo, eu tomava longas doses, enchia minha boca toda, sentia o álcool corroer o céu de dentes e engolia, literalmente, tudo de uma única vez. Era a única coisa que me fazia sentir mais quente. Era o cobertor mais quente que eu poderia conseguir.

domingo, 20 de março de 2011

Eu apenas concluí que ela escorregava por entre as cinzas

Memórias de um homem esquecido

Pensei em Alice, no que ela estaria fazendo, mesmo sabendo que o nosso amor era presente, sincero, parecíamos estar tão distantes um do outro, um muro de Berlim parecia nos dividir, era como se os nossos corpos permanecessem juntos e as nossas cabeças tivessem sido desgrudadas uma da outra; sentia-me sozinho demais, pensativo demais e via nos olhos de Alice que ela queria outras coisas pra sua vida, coisas essas que eu não era capaz de dá-la. Sentia-me traído pelo meu próprio sentimento, era um amor transformado em algodão, um sentimento amorfo, uma sensação vazia que não tinha mais necessidade de se chamar de sonho.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Conto - O dia em que apresentei o ponto final

Às vezes existe tanto desespero, tanta casca saindo das minhas costas, que esqueço que tudo é uma questão de virar uma página; e a página passada, acredite, foi umas das melhores proezas, uma das melhores coisas que um homem poderia ter lido, provado. Não me acostumei a esquecer aquelas linhas retas, acentuadas, coloridas de uma libido, de uma insinuação que canta, encanta e me mordem as orelhas. Julguei que seria a minha mulher e que a eternidade cavaria as nossas covas rasas. Um dia perdi os compassos da minha própria vida, meus parágrafos rolavam, descambavam, e o que seria um respiro se tornou em um grande abandono...! Tudo por causa dele, que arrancou de mim a minha página predileta, me fez sofrer e cair nesse desespero infindo de querer arrancar os olhos. Roubou, ele, a personagem principal do meu livro, me fez trocar a minha vírgula pelo seu ponto final.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Conto – As Borboletas de Muzo

   Fecho os meus olhos e lembro-me da exemplar exposição do seu olhar, verde e esplendorosamente singelo, o poder de toda flora carregado nos seus olhos resplandecentes de mulher. Meu vôo é muito mais do que uma aproximação da realidade é o mito que nos acoberta nos devidos sonhos; dentro deles sou complacente com o amor sugerido, revigorado pelos olhares e inoportunas sensações de formigamento em meu peito.
   Sua chegada era programada, depois de anos de viagem. Partiu, feito louca deixando tudo e todos pra trás. Seu desejo era descobrir o mundo, encontrar-se no desconhecido e aprender com culturas distintas a melhor maneira de se definir. Desde criança, era notável sua aptidão e seu real envolvimento em se despir das coisas que a sufocava. Ela saiu de casa com a esperança de preenchimento do seu espírito, pois acreditava que algo maior era reservado pra ela no imaginário particular do seu mundo.
   Quando ela fugiu da casa da minha tia, eu nem entendia seus reais motivos, talvez minha idade inferior e a falta de maturidade foram determinantes pra que isso ocorresse. Pra ser sincero, nem gostava muito dela quando criança, talvez por meus pais acharem que ela era meio maluca. Não sei. Só sei que sentia um pouco de receio, algo que me repelia da minha prima.
   Uma quinta-feira chegou à notícia que ela havia partido, sem rumo, sem uma estrada predefinida. Foi um burburinho só, uma vergonha encarecida no lúgubre da alma da minha tia. Deixou apenas um bilhete falando que voltaria um dia, e que mandaria inúmeras cartas pra contar seus passos e inquietar um pouco o coração da sua mãe que tanto amava.
   Pra mim suas cartas eram verdadeiras sagas, repletas de aventuras e fantasias. Comecei a admirá-la de tal forma, denominando-a como a aventureira dos meus sonhos. Com os anos fui esquecendo-me do seu rosto. Mas a cada capítulo, a cada versículo, a cada sensação de liberdade que ela me transmitia; era criado em mim centenas e inúmeras versões de uma mesma mulher.
   A última carta dizia que voltaria em breve, que não agüentava de tanta saudade dos seus entes queridos. No momento eu senti certo pavor, um medo que escondia uma felicidade inquieta. Como estará ela agora? O que direi? O que farei? A curiosidade me matava a cada dia. Eu a esperava, procurando o desfecho de vê-la, de senti-la. Mas os dias iam pingando frustrações e eu as escrevia com o pensamento nela. Como será a sensação?
   O engraçado é que tudo acontece quando menos se espera. Lembro-me como se fosse hoje ela chegando à casa da minha tia. Usava uma fita vermelha prendendo o seu brilhoso cabelo negro, um chapéu longo e um poncho dos Andes. Pra ser sincero não reparei nada disso assim tão rápido, eu fiquei fascinado por aquela mulher de olhos verdes. Minha prima.
   A verdade é que aqueles olhos continham cristais romboédricos, de uma magia indescritível. Brilhavam como gotas de azeite. Aqueles olhos oblíquos. Feitos de uma pedra não talhada. Pareciam aquelas grandes esmeraldas da cidade de “Muzo”, que eu como químico e admirador do estudo da mineralogia soube ver e contempla-los com grande entusiasmo.
   Fiquei surpreso por seu modo relaxado e dado. Sem nenhuma preocupação veio e me deu um abraço daqueles. Gostoso. A silhueta do seu corpo, o melhor desenho que Deus podia ter elaborado, a obra perfeita. Meu péssimo agosto dava lugar para um quente e acolhedor setembro, presente nas curvas do corpo daquela mulher idealizada.
   Em questão de segundos parecíamos velhos confidentes. Eu sempre reclamando da minha vida. Dizendo que estava cansado de ser amorfo... Que a solidão é algo presente em meu espírito, que os meus sentidos foram aprisionados em uma cauda de estrela e levado pra não sei onde. Blá, blá, blá. Com ela tudo era diferente, ela era a lua e olhava tudo de cima sempre com maestria, sabia dentro de suas concepções que não há lógica em escrever, mas virtudes em se perder pra se encontrar depois. Uma mulher mágica que me chamava de anjo, o recipiente onde eu depositava meu amor gigantesco.
   De certa forma ela fazia parte de mim, vivíamos entre as fumaças dos cigarros e da degustação de vinhos baratos. Sempre nos perdíamos naquele silêncio momentâneo, o presságio configurado pela repentina troca de olhares. O amor estava nascendo e a tentação expelia a grande histeria de nos possuirmos logo, de uma vez...
   Não demorou muito pra sentirmos nossos sangues com laços familiares coagulados na loucura do desejo. Como descrever o sentir da encruzilhada das suas pernas?Não faço idéia. Só sei que fui absorvido dentro dela e minutos depois filtrado, como se tivesse sido acompanhado passo a passo no precipitar de minhas asas. Na minha concepção o erro é envolvente como nasceu para ser; e era na certeza que se criou entre nós.
Um dia ela me disse...
   Sempre soube que partiria, ingenuidade minha achar o contrário. Eu gostaria de não sentir saudades, mas é algo que parte de dentro de mim e não tem como conter. Eu não poderia prendê-la, pois ela fugiu do destino mais certo... Que era estar comigo. Seus olhos significavam as mais belas borboletas, pois voavam sem destino certo... E sei que tais borboletas são muito mais bonitas quando podem exalar para o mundo toda a sua liberdade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Anacrônico

Memórias de um homem esquecido

Dias de espera sempre são gigantes embora trajem mangas curtas. Talvez seja a mágica do tempo, do gostar, do sentir mais perto. Eu esperei tão desesperadamente nesse curto espaço de estrelas que acabei perdendo-me nos compassos do relógio. Finalmente consegui entender que tudo tem o seu tempo e o meu tinha acabado de chegar; viver com Alice me trouxe alegria e uma vontade que eu não estava muito habituado. Estávamos tão tomados um pelo outro que cada vez mais nos tornamos unidos, tínhamos todos os ingredientes de um casal feliz: - “Uma pitada de carinho, uma xícara de amizade e muito sexo a gosto”.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Conto – A Casa Pré-Fabricada

Com seu corpo estirado no chão: “chão esse que lhe parecia um tapete borbulhando de um fervor rubro”, nada lhe parecia distante, tão diferente das situações que lhe ocorrem ontem, ou anteontem, não se sabe ao certo... No seu tapete tudo se criava; suas idéias e reverberações de destaque e alegorias. Não sabia ele nada sobre a vida, mas ali no pseudo-tapete, era possível, bem possível que germinassem sementes, que brotassem árvores assim tão frutíferas. Esse era o seu espaço de dimensões restritas, de comprimento e largura que pra ele poderiam ser maiores do que qualquer teoria, do que qualquer outra medida. Sim, ele podia deleitar-se ali jogado, crucificado no mar de um tapete que parecia sua casa com paredes de vidro. Sentia-se feliz por ter seu espaço: “espaço esse infinito que não cabia mais ninguém”, só ele. Ali parecia seu lugar de silêncio, de maestria, onde as notas titubeavam para um sono profundo e eficaz. Muitas vezes procurou um sentido lógico, porém esse sempre inatingível, ininteligível percurso. Nada no mundo parece melhor do que aquele espaço, nenhum lugar é tão reconfortante e sossegado, ao seu entendimento, para estar-se morto.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conto – A fantástica história que se escondia no útero de Maria Isabel

   Providencialmente antes de começar a relatar algo, eu digo sem estremecer as minhas bases que amo Maria Isabel. Tão belos são seus olhos castanhos, tão resplandecentes são as vestimentas de pele cobrindo toda aquela carne magra, como são belos aqueles seios arredondados, aveludados, seios tão firmes, que diria que qualquer criança o trocaria por qualquer urso de pelúcia. Tudo o que eu poderia esperar dela era construir definitivamente uma família. Quando a beijava sentia meu corpo oscilar, sentia que a qualquer momento nossos lábios seriam suturados entre as salivas repetidas que trocávamos em qualquer canto escuro. Não digo totalmente de algo carnal, pois a carne nasceu para ser devorada, servindo apenas para completar o espaço que falta dentro do meu estômago. Era muito mais do que isso. Tinha que ser... Toda vez que sentia as mãos salientes de Maria Isabel percorrendo pelo meu peito era como se meu coração quisesse pular de dentro de mim para dar-lhe um grande abraço. Eu tinha a necessidade de ver as nossas sombras juntas, mescladas, compartilhadas pelo mesmo feixe de luz.
   As horas martelavam incessantemente, os ponteiros decaíam, mergulhavam intermitentemente na profundeza e ao mesmo tempo queriam respirar, lançando uma corda para enforcar o número mais alto; e nesse movimento cíclico de funcionalidade, entre se salvar e morrer, as horas eram extintas, queimadas rapidamente como nos cigarros que tragávamos. Amávamos-nos tanto e era tanta a libido que circulava entre nossas veias, que o destino fez o seu papel perfeitamente: Maria Isabel estava grávida...!
   A felicidade ao mesmo tempo em que me enchia fazia meus músculos retesarem. Primeiramente arrumaria um emprego, segundo procuraria uma casa para vivermos e terceiro oficiaria nosso relacionamento. Queria dar uma grande festa, uma daquelas que o noivo fica tão doido que nem ao menos consegue dizer sim. Porém, eu queria dizer essas três letras com toda certeza que se pode ter. Os planos percorriam pela minha cabeça, pois eu queria fazer tudo certo e mostrar a todos como se é feliz quando se pode compartilhar isso com alguém. Contei a todos na cidade que iria ser pai e que dentro de alguns meses me casaria com Maria Isabel; estava pronto para estar ainda mais completo. A cidade queria, desejava, se preparar para uma grande festa. Porém, Maria Isabel puxou-me pelos braços e me disse: “Eu vou abortar”.
   O meu céu encheu-se de vermelho e o meu coração que antes queria abraçar desejava enforcar-lhe:
- Como assim Maria Isabel abortar? Pra que? - Eu vou assumir todas as minhas responsabilidades e você sabe bem disso. Porém, ela parecia estar decidida demais para desistir do que estava memorizado na sua mente:
- Não quero ter um filho nessa altura da minha vida – respondeu ela com os olhos molhados – Tenho tanta coisa para viver, tanta coisa pra ver, que ter um filho é a única coisa que não quero ter nesse momento.
– Não que eu não goste de você, às vezes acho até que te amo, mas a questão primordial é que não estou preparada pra tanta responsabilidade.
  A cada palavra que Maria Isabel proferia era uma facada dura no meu peito, era ela tentando se livrar do meu sonho para ter o dela. Fui embora tão desesperadamente da sua frente, tão furioso, que nem seu choro foi capaz de me fazer refletir pra onde estava indo... E a partir do meu desespero algumas pessoas me perguntavam: - Quando que o mais novo papai vai se casar? Pensaram no nome do bebê? Está feliz? Você se sente com sorte, meu filho, por se casar com uma mulher tão linda? Essas notas estavam doendo no meu ouvido, minha cabeça parecia girar e tudo o que eu queria era gritar e sumir num sopro de vento qualquer. Foi então que tive a idéia mais louca que alguém poderia ter...
  Em plena praça pública eu dizia tudo o que havia acontecido e as pessoas cada vez mais iam se aproximando para me ver cantar todo o meu lamento. Estava decidido a fazer um abaixo assinado impedindo que Maria Isabel abortasse. Eu havia provocado uma revolta popular.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Todo embrulhado em cobertura de açúcar

Hoje eu posso dizer que olho todos de cima, estou tão alto, mas tão alto que o décimo primeiro andar é o mais próximo dos dedos dos meus pés. Poderia simplesmente jogar todo meu peso abaixo, ser puxado pela gravidade, apagar tão profundamente que não estranharia se me confundissem com uma lâmpada queimada. Estou cego. Sou o primeiro cego que consegue enxergar e sou tão surdo quanto uma pedra no fundo do mar mais fundo. Tudo parece constante, constantemente correto, constantemente incorreto, e nessa confusão do é ou não, prefiro pensar no foda-se, sim no foda-se... Tudo o que eu quero é esparramar-me no vento, sentir o que arbitrariamente é distinto hoje pra mim. Quando se alcança qualquer coisa tudo o que se tem a fazer é segura-la pelos braços, oportunidades como essas são raras quando se leva toda uma vida no pecado, na indecência, na imoralidade de não se reconhecer numa poça de chuva em plena quarta-feira. Quando caminho trajando minhas imperfeições e seu sorriso me acompanha logo largo minhas armas. Eu me desarmei por completo e essa sensação de sentir-se livre é uma das coisas que mais prezo. Sinto-me melhor do que a grande maioria das pessoas, eu arriscaria dizer que estou feliz... Felicidade, felicidade. Soa bonito quando se diz em momentos certos. Felicidade.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Quando ela me beija...

        Dentro do ar existem vozes, voando, vagando notas desconhecidas ao pé dos meus ouvidos. Talvez nem sejam tão desconhecidas assim, apenas esquecidas tamanha à vontade por uma única. Todas as outras soam baixas e imperceptíveis pra mim, e isso não é auto-suficiência, pois pra isso eu deveria ser sozinho e nas reais circunstâncias não tenho me sentido. Tenho o zumbido que caminha ao meu lado configurado sua canções antropofágicas, e isso me faz querer esquecer o mundo, e o mundo não é nada se não existe tais corpos-cancionais... Essas são as cordas que quero pestanejar, fazer o acorde saudoso da gaita e dos abraços no luzir da lua cheia. E essa canção me salva da selvageria, me salva da correria de uma cidade tão grande como meu umbigo. Escutar tal voz me faz querer dar um passo após outro, e assim me fazer correr tão decidido ao seu encontro. Porém, o encontro nunca é feito por uma única pessoa... O meu bem, raramente aparecia, raramente me dava uma chance de penetrar de cabeça em sua vida. Eu estava amando essa mulher, essa mulher que não poderia ter um nome, pessoas assim não precisam de nome; são preciosidades e um nome é o que de menos valioso se pode ter.

Carlos Posada e o Clã da pá virada

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dirigindo, meu bem, dirigindo pelas estradas abaixo da cintura

Passando por ruas desertas, caminhos tão ocos quando um coração solitário, o céu compenetrado derrama seu cetim de afazeres. Todo o espaço do mundo estava ao meu lado, e nesse todo, nesse tudo, era onde queria passar minhas horas de desespero, de felicidade, de sabor, uma mística que falava sobre união, sobre manter-se compenetrado, como uma pápula, como uma semente que germina e prontamente se suicida. Eu estava amando tudo aquilo. O cheiro do seu cabelo, o toque em sua pele macia, o deletério não conjugado. Seus olhos me cercam, me matam; olhos que arrancam os tijolos da minha base e me deixam desmoronar numa frouxidão de nervos, em veias que de tão esticadas se desmancham como farelo de pão. Os ventos falsificados que torneiam os nossos corpos descrevem a necessidade que temos de nos manter estáveis nos duzentos graus, de conjugarmos na loucura, na redundância dos nossos movimentos descompassados. Eu amo estar por baixo e passar as minhas mãos por entre as montanhas esperando que tudo, que tudo, que tudo se arruíne e venha abaixo como um vulcão.