terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dirigindo, meu bem, dirigindo pelas estradas abaixo da cintura

Passando por ruas desertas, caminhos tão ocos quando um coração solitário, o céu compenetrado derrama seu cetim de afazeres. Todo o espaço do mundo estava ao meu lado, e nesse todo, nesse tudo, era onde queria passar minhas horas de desespero, de felicidade, de sabor, uma mística que falava sobre união, sobre manter-se compenetrado, como uma pápula, como uma semente que germina e prontamente se suicida. Eu estava amando tudo aquilo. O cheiro do seu cabelo, o toque em sua pele macia, o deletério não conjugado. Seus olhos me cercam, me matam; olhos que arrancam os tijolos da minha base e me deixam desmoronar numa frouxidão de nervos, em veias que de tão esticadas se desmancham como farelo de pão. Os ventos falsificados que torneiam os nossos corpos descrevem a necessidade que temos de nos manter estáveis nos duzentos graus, de conjugarmos na loucura, na redundância dos nossos movimentos descompassados. Eu amo estar por baixo e passar as minhas mãos por entre as montanhas esperando que tudo, que tudo, que tudo se arruíne e venha abaixo como um vulcão.

sábado, 27 de agosto de 2011

Eu não vou...

Pode parecer ridículo, mas permanecer, assim, achando que todos são babacas e menos espertos do que eu, está me fazendo muito mal, está me afastando cada vez mais de mim e do mundo. Queria que Deus fizesse as pessoas pararem de ser babacas e estúpidas, pois se existe alguém que quer me dar uma vida melhor, saiba: - "Eu não vou mudar"!

sábado, 20 de agosto de 2011

Conto - Pontos de interrogação

Era um sábado, tão monótono como qualquer outro em minha vida, acordei descabelado, bêbado e com uma ressaca que explodia as têmporas das minhas cabeças. O banheiro como sempre se encontrava imundo, papéis encharcados de merda transbordavam as cestas, os espelhos escorriam o flúor das pastas de dentes e dos sabonetes nasciam raízes de cabelos. Do jeito que me encontrava, encharcado pelo mormaço das noites, não podia dar o valor de recusar um bom banho. Sequei-me com uma toalha úmida que de branco passou à marrom, escovei meus dentes com pressa, e como não poderia ser diferente dei uma bola para suportar o resto do dia com um sorriso chinfrim na cara.

Na geladeira a única coisa tragável era a sobra de um mamão com mel de ontem. Limpei a mesa com apenas um ato e um braço, acendi um cigarro e me senti num mar de veneno, nessa lama inventada, nesse sangue das taças, nessa vida de margens. Entre todos os males o que menos incomodava era a doçura do mel... Eu sabia. Li no seu rosto o fogo, o gosto, o gozo e mesmo assim me virei de lado, ignorei seu sorriso, seu semblante apaixonado que me sussurrava carícias, afagos e gestos nobres no fundo do fim.

Meu pensamento estava nela, no telemarketing, no instigante sorriso que eu não podia sequer seqüenciar, mapear, decodificar. Eu estava tão morto quanto vivia, e dentro desse ato, dessa lama, desse comprado meio de vida, estava limpo e seco de saudade. Uma cigarra canta em meu peito, para assim, quem sabe, encontrar um delírio mais limpo para suportar a sua loucura, sua doçura e as estrelas da sua realidade.

domingo, 14 de agosto de 2011

Amigos, Amigas, Cachorros e Dragões

Muitas pessoas beijam sobre o efeito do álcool, se soltam, se libertam e fazem todo o escarcel de prazer, como se a cachaça limpasse as roldanas do motor do sexo, da libido... Depois, quando acordam desse céu de corpos, culpam o álcool por beijar amigos, amigas, cachorros e dragões. A sensação do álcool é o que liberta o que estava profundo em você e isso é bom, é forte, quente, tentador. As desculpas do arrependimento não... São fracas, falsas e procuram culpar algo que faça os outros acreditarem que não, aquele não era você.